Abelhas nativas sem ferrão: mel de excelente qualidade

As abelhas são insetos sociais, que vivem em grandes comunidades, onde a ordem do dia é sempre a preservação da espécie. Podem ser encontradas em ocos de tocos de árvores, em buracos nos barrancos e pedras, em cupinzeiros desocupados e em outros locais que as protejam de intempéries. Vivem em colmeias, que são caixas de madeira, cuidadosamente construídas, respeitando-se todo um espaço interno (espaço abelha).
Na atualidade, muitas pesquisas estão sendo feitas sobre as técnicas de criação das nossas abelhas nativas, visando à meliponicultura, produção comercial de mel. Isso fez com que a criação de abelhas exóticas avançasse muito em todo o país. Além da possibilidade de produzir mel de excelente qualidade, fatores ecológicos têm se tornado, cada vez mais, necessários à sua criação: muitas espécies estão ameaçadas de extinção por destruição do habitat natural.
“Mas, além das vantagens ecológicas, é possível tirar proveito econômico dessa iniciativa. O mel e o pólen, armazenados por elas, podem ser explorados pelo homem, constituindo-se em fonte de renda, especialmente, para pequenos produtores”, afirmam os professores Ana Maria Waldschimidt e Paulo Sérgio Cavalcanti Costa, do curso Criação de Abelhas Nativas sem Ferrão – Uruçu, Mandaçaia, Jataí e Iraí, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.
As espécies de abelhas sem ferrão
1) Uruçu (Melipona scutellaris)
Uruçu é uma palavra que vem do tupi “eiru su” e significa abelha grande. Essa nomenclatura está relacionada com diversas abelhas do mesmo gênero, encontradas não só no Nordeste mas também na região Norte. No Brasil, existe a Uruçu amarela (Melipona rufiventris), bem como a Uruçu Verdadeira ou Uruçu do Nordeste (Melipona scutellaris). A tendência, porém, é a de reservar o termo uruçu para a abelha da zona da mata do litoral baiano e nordestino, que se destaca pelo tamanho avantajado (semelhante à Apis), pela produção de mel expressiva entre os meliponídeos e pela facilidade do manejo, pois são abelhas mansas.
Mel
mel, que pode ser comercializado em litros, é mais líquido que o de Apis. É usado como remédio, renda extra, ou mesmo, como um alimento melhor para as famílias. Nos trabalhos mais criteriosos, os criadores das abelhas são incentivados a retirar o mel com bomba sugadora, o que diminui o manuseio, o desperdício de mel no fundo das caixas e evita a morte de ovos e larvas quando não se inclina a colmeia para escorrer o mel. O mel dessas abelhas, além de muito saboroso, pode ser produzido até 10 litros/ano/colônia, em épocas favoráveis, embora a média seja de 2,5 a 4 litros/ano/colônia. É considerado medicinal, rico em propriedades bactericidas, energéticas e antioxidantes. Devido ao alto teor de água, eles devem ser armazenados em geladeira quando não forem consumidos imediatamente.
2) Mandaçaia (Melipona mandacaia)
Mandaçaia é uma palavra indígena que significa “vigia bonito” , fato este por se observar no orifício de entrada da colmeia uma abelha sempre presente, ou seja, a vigia. Também é conhecida pelos nomes de AmanaçaíAmanaçaia, Manaçaia e Mandaçaia-grande. É uma abelha social brasileira, de cabeça e tórax pretos, abdome com faixas amarelas interrompidas no meio de cada segmento e asas ferrugíneas. Medindo entre 10 e 11 mm de comprimento, estas abelhas nidificam em árvores ocas e os ninhos, com boca de barro, estes são grandes e, em geral, contêm muitos litros de mel. Esta espécie de abelha possui excelentes características para ser criada, racionalmente, e conta com uma incidência maior em várias regiões do país, indo desde o Paraná até o Estado da Bahia.
Mel
mel produzido pela Mandaçaia é procurado por seu agradável sabor não enjoativo. É bastante liquefeito, devido ao alto teor de umidade, fato este que requer que este fique armazenado sob refrigeração, para evitar a fermentação. Na natureza, a Mandaçaia pode produzir de 1,5 a 2,0 litros de mel, em épocas de boa florada. Criada, racionalmente, a produção pode aumentar.
3) Jataí (Tetragonisca angustula)
A criação de abelhas Jataí tem se firmado como uma boa opção aos meliponicultores. Abelha nativado Brasil, com ampla distribuição geográfica, é encontrada do Rio Grande do Sul até o México. A Jataí tem algumas vantagens sobre as africanizadas ou europeias pertencentes à família Apis. É uma abelha bastante rústica, que tem grande capacidade para fazer ninhos e sobreviver em diferentes ambientes, inclusive em zonas urbanas. A grande vantagem desta espécie de abelha é sua mansidão e o fato de não possuir ferrão. No máximo, dá uns pequenos beliscões ou gruda cerume nos intrusos quando se sente ameaçada. Essa característica permite que ela seja criada perto de casa, de pessoas e animais sem oferecer riscos de ataques.
Mel
mel da Jataí, além de saboroso e suave, é bastante procurado por suas propriedades medicinais. É usado como fortificante e anti-inflamatório, em particular dos olhos. Além do mel, a Jataí produz própoliscera e pólen de boa qualidade. Em comparação com as abelhas com ferrão, a Jataí produz em menor quantidade, mas o preço de venda é bem maior: um litro desse mel pode chegar a 100 reais. É interessante lembrar que as abelhas armazenam, separadamente, o pólen e o mel em potes de tamanho semelhantes. Os potes de mel podem ser reconhecidos, porque são mais transparentes, enquanto os de pólen são opacos.
4) Iraí (Nannotrigona testaceicornes)
Esta abelha é encontrada, principalmente, em zonas tropicais, mais especialmente, do norte do Paraná, no Brasil, até os Estados Unidos, na América do Norte. A origem do seu nome, como não poderia deixar de ser, vem do Tupi e significa“rio do mel”, ou “rio doce”. Abelha indígena, pertencente à tribo dos Trigonini, constrói um berço real, ou seja, uma realeira, na periferia dos favos de cria, para que venha nascer uma nova rainha. Na região Nordeste é conhecida pelo nome popular de Camuengo, ou Mambuquinha. No Sul, é conhecida por Jataí preta, ou Jataí mosquito. Trata-se de uma abelha que mede em torno de 4 mm de comprimento, é preta, possuindo pilosidade (pelos) grisalhos e asas esfumaçadas no terço apical (ponta das asas). Constrói seus ninhos nos locais mais variados, como muros de pedras, blocos de cimento, tijolos vazados e, de preferência, em ocos de árvores, por isso, é muito comum encontrá-las em regiões urbanas. Abelhade comportamento interessante, a Iraí tem o trabalho de fechar a entrada da sua colônia ao cair da noite e abri-lo ao amanhecer. Esta entrada é construída com cerume e consiste em um tubo curto de cor parda e, às vezes, escuro, no qual encontramos sempre várias abelhas guardiãs ao redor do tubo. É uma espécie tímida, de fácil manejo, pois é muito mansa.
Mel
Produz um mel de boa qualidade, porém em pequena quantidade. Por outro lado, a abelha Iraí produz grande quantidade de própolis puro e viscoso que, geralmente, usa para defesa de seu ninho.
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Por Andréa Oliveira